SOM E SILÊNCIO

O projeto de monitoria “som e silêncio” foi desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental Profº Miltom Pacheco, no Bairro Caravágio, Osório, na turma t1 da EJA. Eram 10 alunos entre jovens, donas de casa, pedreiros e até mesmo aposentados, vítimas da cultura do silêncio que tem calado milhares de brasileiros (Gadotti, 1989). Dentro desta concepção buscamos através da música desafiá-los a oralidade, com o objetivo de que antes de se apropriarem da escrita e da leitura eles possam através da linguagem verbal expressar seu mundo interior. Seus valores, crenças, rituais, medos, imagens internas , memórias, desejos e sonhos. Mesmo sem a aquisição da escrita, a fala constitui o elemento visível do nível de raciocínio e compreensão da realidade e contribui para o sujeito tomar consciência dos processos verbais empregados na resolução de uma situaçao problematizadora. E pra que esse processo de aprendizagem aconteça é necessário trabalhar com os alunos questões significativas e pertinentes as suas vidas e que despertem interesse. Daí a música como instrumento de organização e relacionamento, pois ela perpassa entre o som e silêncio, independente de cultura e tempo, despertando motivação, que como diz Piaget (1973 ) nenhum método ou livro terá utilidade se não proporcionar motivação. A música por si só contribui para o pensamento criativo. Cada indivíduo, ao escutar uma música interpreta-a de forma única e pessoal. É uma leitura interna de algo que está vindo de fora. Além da forma de internalização, inversamente, a música fornece, também, subsídios para externalizar sentimentos, ela é uma arte que pode atingir de forma integral o ser humano, produzindo efeitos mentais e corporais. Propomos que cada um escrevesse o nome de uma música ou trecho da letra significativa a eles, num primeiro momento, instigando a turma a relacionar as questões sociais às suas vivências. No segundo momento escutamos a canção “ cidadão” com Zé ramalho, onde abrimos espaço para socialização. Na última etapa os alunos foram desafiados á oralidade, solicitamos que em duplas apresentassem um ao outro à turma; falaram de seus objetivos, suas dificuldades, analisaram o professor e expuseram suas impressões sobre o trabalho que desenvolvemos com eles. Nesta etapa surpreendemos a turma com um cd coletânea com as músicas escolhidas pelo grupo, que foi sorteado entre eles e os homenageamos com um pensamento de Paulo Freire. Durante a monitoria analisamos três alunos de diferentes níveis da psicogênese, com diferentes comportamentos e que aprendem num mesmo espaço, explicando a possibilidade de os ritmos individuais serem organizados coletivamente no cotidiano escolar, (Moll,1996). O primeiro aluno pré-silábico, em momento algum demonstrou interesse por aprender, a silábica bastante afetiva e participativa, inclusive comentou, conosco que reserva tempo pra estudar em casa, já o terceiro aluno está no nível alfabético mas tem grandes dificuldades pra se expressar, mas quando provocada a falar se expressa de forma poética. A partir do relato exposto , observa-se que a experiência em sala de aula resultou em oportunidade de interação solidária , na medida que os alunos e professores , como sujeitos do processo, interagiram entre si nas pequenas ações que moveram a práxis. Podemos perceber contribuições advindas da música. Oportunidades de diálogos, motivação para pesquisa, valorização do outro,cooperação, oportunidade de crescimento individual e coletivo, expressão através da linguagem oral e escrita. Na realidade ensaiamos os primeiros passos, na perspectiva de que a música, enquanto expresão cultural contribua para construção justa e solidária. A prática de monitoria fortaleceu nossa paixão pela eja, um grupo social que tem como tônica de trabalho o acreditar que são capazes de aprender, ( Moll,1996). E o que faz um verdadeiro educador é a sua busca de encontrar meios de alcançar seu aluno.
Referências:
MOLL, Jaqueline. Alfabetização possível: reinventando o ensinar e o aprender. Porto Alegre: Mediação, 1996.
FERREIRO, Emilia(org.). Os filhos do analfabetismo propostas para alfabetização escolar na américa latina. Porto alegre:Artmed Editora,1990.
BAGNO, Marcos. Preconceitos lingüìstico- o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:Paz e terra, 1996 .
SOARES, Magda Becker. Letrar é mais que alfabetizar. 2000

Acadêmicas: ELARA CUNHA, LILIAN RODRIGUES

2 comentários:

Aurélio disse...

PARABENS E ESPERO QUE CONTINUE ASSIM, ENSINANDO A QUEM QUER E A QUEM PRECISSA APRENDER.


AURÉLIO

múltiplos... disse...

Muito ainda temos a fazer junto a EJA... Esta monitoria é o primeiro passo de um compromisso, de um desejo de promover pessoas... Aprofundem esta temática e voltem na escola para outras práticas que envolvam a EJA. O vídeo exposto em sala de aula comprova o quanto mobilizaram o grupo. Parabéns!!! Abraços da profª Anilda

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