LETRAR É MAIS DO QUE ALFABETIZAR

"LETRAR É MAIS DO QUE ALFABETIZAR"

Esta entrevista tem por objetivo principal tratar de uma das questões mais preocupantes nos dias atuais, onde a centralização de todas as sociedades está na aquisição da leitura e da escrita, isto é, num "ser alfabetizado". "Ser", este que está insuficiente dentro das suas próprias aquisições de conhecimentos, pois tudo aquilo que aprende e quando aprende já está defasado, já está sendo reconstruído pela desenfreada industrialização das grandes potências que nos surpreende a cada dia que passa, por se tratarem de um "ser insuficientemente capaz" de adequarem-se as condições de vida deste mundo contemporâneo.
Soares tenta mostrar-nos através de um paralelo muito bem configurado por muitas pesquisas como fonte de informação e de comprovação de que o conceito de alfabetização perdeu sua conceitualização não pelas mudanças de estruturação na palavra, mas sim, pela forma com que foi sendo introduzida e trabalhada nas instituições de ensino. Instruções baseadas num "vamos fazer assim", que as crianças aprendem... Ou quem sabe assim... Ou numa outra forma de alfabetização bem comum nos anos 90 a alfabetização construtivista, ou no método construtivista, em que cada vez que se constituía mais desconstruiam-se as pobres crianças que desta instituição não passavam de cobaias de um método que nem ao próprios professores entendiam. Professores e instituições de ensino que simplesmente ignoravam as culturas das suas crianças, pertencentes a uma sociedade, com usos e costumes diferenciados e bastante diversificados, e que deveriam sim ser trabalhados como embasamento teórico para dignificar e respeitar as culturas híbridas existentes principalmente no Brasil. Enfim Soares tenta-nos fazer entender o porquê deste "novo palavreado": LETRAR... Que para muitos difusores da alfabetização mostra-se inclusa dentro da própria palavra: ALFABETIZAÇÃO, mas que devido a forma com que esta fora trabalhada ao longo dos anos, fora sendo cada vez mais desconectada dos princípios básicos que esta palavra se configurara. Princípios que foram se tornando cartilhas seletas de um conhecimento advindo de pessoas que desconheciam suas clientelas. Cartilhas, livretos, e diários elaborados por estudiosos completamente desconfigurados socialmente das realidades sociais, econômicas e principalmente culturais, desprovidos de conteúdos regionais, de estruturações firmes e sólidas para a construção de novos e fundamentados conhecimentos.
“Segundo a entrevistada Magda Soares, a alfabetização ultrapassa ao ler e ao escrever, ou seja, ela ultrapassa a leitura e a escrita” (Soares, 2006), ela é muito mais do que um simples iniciar em uma instituição escolar em que disponibilizarão a cada criança os primeiros contatos com os saberes. Penso que ouve um enorme equívoco dos profissionais da área da educação em relação aos sentidos reais da alfabetização, sentidos esses que foram se perdendo, ou que na verdade nunca foram atribuídos com os verdadeiros propósitos do alfabetizar o de aprimorar as vivências, ou de se complementar através das experiências fontes riquíssimas de construções de novos conhecimentos.

“Considero que é um risco o que se vinha fazendo, ou se vem fazendo, repetindo-se que a alfabetização não é apenas ensinar a ler e a escrever, desmerecendo assim, de certa forma, a importância de ensinar a ler e a escrever (Soares, Jornal do Brasil – 26/11/2006).

Ficam evidentes os processos de sistematizações dentro da alfabetização, buscando sempre orientar as crianças para o domínio da escrita, dentro e fora do ambiente escolar, ou seja, propiciar dentro do processo novas práticas que venham a dar sustentação em tudo o que está sendo conhecido, aprendido, transformado constantemente com a ajuda de outros mecanismos enriquecedores e fundamentadoras de novas aprendizagens, as quais se farão presentes por toda a vida escolar e mesmo depois que esta estiver concluída. Pois, acreditamos que enquanto há vida há aprendizado.
Os conceitos de letramento, defendidos e pesquisados por estudiosos não é mais um "lançamento novo", de alguns teóricos defendem, o Letramento é e sempre esteve incluso dentro da alfabetização. Porém as formas como vinham sendo elaboradas as transformações dos conhecimentos é que acabaram com o letramento invisível e que se faziam presentes dentro da alfabetização. O letramento sempre esteve presente que o tirou de circulação foram os métodos mais eficazes das escolas tradicionais. Escolas essas que eram à favor de uma sociedade seriada, moldada esculpida dentro dos padrões de normalidade, jamais existentes. O que nunca esteve muito presente fôramos entendimentos dos educadores em buscar fora outros mecanismos aliados a esse processo.

Dentro destes pensamentos é que estamos buscando diariamente embasamento teórico que venham a enriquecer este complexo que circunda a alfabetização, buscando contemplar em âmbitos maiores o verdadeiro sentido da alfabetização, que não requer um formato único, nem tampouco centrado, estanque ou inovador. O que Soares, defende, são os diferentes espaços em que a alfabetização acontece, dos diferenciados mecanismos de produção de novos saberes que devem sim ser levado em consideração. Sem dúvida alguma ler e escrever é um compromisso de todas as áreas e podem acontecer em qualquer lugar, desde que possamos enxergar esses ambientes multialfabetizadores que estão fora dos muros e cercas das escolas.


Bibliografia:

SOARES, M. B. “Letrar é mais do que alfabetizar”. Entrevista jornal do Brasil, 26/11/2000.


Acadêmica Jane da Rosa Rodrigues

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